segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Desabafo noturno (reflexão sobre os últimos tempos)

As tragédias estão aí
Basta olharmos pelas frestas
Pena que enquanto uns sentem dor
Outros dão festas

Até pode parecer clichê
Todos falam sobre isso!
Mas a contradição humana
Tem um peso aflitivo

E tudo isso pesa muito em mim...

Dói demais ser
Ser humano
E temo contradizer:

Mas sou contraditória!

Sou humana, apegada à memória
Individual e coletiva

Passiva

Queria ajudar mais
Agir, doar...
Mas só consigo lamentar
O fato de ser pouca coisa
Pequena, uma só
Difícil de desmembrar
Mais difícil ainda de somar
Que num dia chora... importa?
E no outro mal acorda e já sorri... hipócrita?

E repito: tudo isso pesa muito!

Falo por mim, mas muitos esquecem
Que o hoje amanhã já será história
Então porque não chorar a glória
E vibrar a perda?!
Se tudo muda, vamos inverter logo todos os valores!
E quem agüentaria?
Quem sorriria num abismo?
E se naquela mesma festa simultânea
Alguém chorasse ao lembrar da dor da perda?
Faria sentido?

“Só sei que nada sei”

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Inconsciente Coletivo

Poesia pescada no ar
Verso-peixe de um poeta
Fisgado pela palavra
Cores oscilantes
Das escamas, das carpas!
Seiva morna cultivada
Dentro da própria casa
Nasço e morro todos os dias
Para escapar da rotina
Poesia pescada no ar
É metonímia!

Descanso

Lua do sorriso fino
Numa de suas hastes
Não caberia um passarinho
Lua que oscila tanto
E vê modificar ao sabor do tempo
Cada motivo e cada pranto

Hoje, lua magra
Amanhã, roliça
Quando uma nuvem passa, espessa,
Tudo é tão fugaz que instiga
O movimento mais veloz a parar

Lua fina que virou meia lua
Que esboçou meio sorriso
Que se tornou um ponto de luz
Quase uma estrela a se apagar

Lua fina que foi dormir atrás do morro
Enquanto eu - não mais uma criança -
Voltei a sonhar...

Teimosia

Tô comendo um pão de queijo
Mas deveria estar escrevendo
Meu dever-ser (kantiano) é a escrita.

Um dia, meu inconsciente me acordou dizendo:
"Escreva!" Tomei um susto, mas gostei!
Pronto. Escrevi.

Mas é triste saber que, às vezes, a preguiça é teia...

Assombro

Não há teto
Não há como!
Não há pano de fundo
Sem cenários, sem entornos
Meu escopo é viver

Cada vez mais tiro máscaras
Leio Jung
E esqueço absurdos
Faço festas - internas e externas -
Vibro à beça! Me atiro no escuro...
Todo mundo me lê.

Sei ser frágil
Sei ser forte
Sei também sorrir e sofrer

Mas o melhor de ser sempre foi escrever (o melhor do ser)!
E não escrevo quase nada sobre mim
Escrevo mais sobre "nós" e "você"

Não há teto
Não há como!
Não há pano de fundo
Sem cenários, sem entornos
Meu escopo é viver

Invisível

Ninguém vê o corpo?
Ninguém vê o corpo
Estendido no chão

Sentado ou curvo
Ajoelhado ou sujo
Pedindo ou mudo

Ninguém vê o corpo no chão!
Ninguém, ninguém...

Só vêem o copo cheio
O corpo bronzeado
O carro blindado
A carteira e o recheio

Mas ninguém vê o corpo estendido lá no meio