sábado, 29 de março de 2008

Livreto caseiro

Queria escrever
O que nunca foi escrito.
Queria dizer
O que nunca foi dito.
Mas como “para bom entendedor
meia palavra basta”
Não escrevo e nem digo: repito.

Salve os ditados populares!
Salve a vida, salve os ciclos!
Salve as meninas, salve os meninos!
Salve a terra, salve os rios!
Salve todos os poetas deste mundo:
Os bem vivos, os meio vivos e os moribundos.

Salve as Creusas, salve as Neusas,
Salve as mulatas desse Brasil!
Salve as cores, salve as raças, salve os brancos e os tizios!

Salve, Salve!
Salve, Salve: antes tarde do que nunca!
Salve, Salve!
Salve,Salve: quem não fere não se machuca!
Salve, Salve!
Salve,Salve: saiba inventar...

e não morra de fome nunca!



MLK Em 12/03/06

sexta-feira, 28 de março de 2008

Primeiro e último (um retrato do Rio de Janeiro que já virou letra de música)

Rio de Janeiro, tens teu próprio cheiro

cidade revirada

Rio de Janeiro, és no mundo inteiro

tiroteio da madrugada

A cruz enterrada, em teu céu aberto, retrata o painel incerto

do caos dessa cidade

Prisão, liberdade? Tensão, criminalidade?

Cristo Redentor, nu de corpo e alma, porque olha e não faz nada?

Cisto Redentor, nas montanhas és reluzido, traga de volta o brilho perdido!

Arranha-céus soberbos, o que estão fazendo agora?

Orem por quem chora:

crianças, moleques, mendigos...

desnudos, desnutridos!

Rio de Janeiro, que em minha porta bate

Eu abro, mas o que vejo?

Só sangue escarlate

No embate o guerrilheiro

O que aconteceu com o meu Rio primeiro?







PS.: Esse poema foi feito em 2001, ano que vim de Recife para o Rio (minha cidade natal). Posteriormente, acabou virando letra de música. A melodia foi feita por Carlos Lenadro Camejo de Souza e a banda Rota In Certa a executou por vários anos seguidos.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Liberdade

A semente se abriu em flor
Do caule, um ventre murcho
Da dor, o esplendor
Das pétalas, o crepúsculo

Os dedos curtos e frágeis
Evoluídos em longos gestos

Nobres como móveis paisagens
Certos como antigos navios
Dispersos em suas miragens

As horas - que não são mais do que um verso -
Hesitam
Enquanto palavras choram tristes
Alagadas com música e arte
Encantadas com o que ainda não existe

Se vai, que não seja para perto



Porque existe o longe



E não passe para o universo toda a dor que punge
Se abasteça dela, siga em frente de si, e se alcance

Se vai, seja o caule em riste a iluminar a ponte

Desobedeça a luz!

Se vai, ponha acácias verdes nos pés
E respire suor em vez de ar seco

Na volta, não se esqueça que a hora é o inverso do tempo





Rio de Janeiro, em 05 de outubro de 2007